Como prometido a entrevista com o Chris e o Todd, bem grandinha também, e meio old. Nela falam sobre a tour de 2007 na América Latina dentre outros assuntos.
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Eles são thrashers, punks, e engajados politicamente. Com quase 20 anos no cenário musical, a banda de punk rock Propagandhi tem feito muito mais do que apenas um nome para eles mesmos. Propagandhi percorreu um longo caminho politicamente e artisticamente desde que formaram a banda na metade dos anos 80. quando Chris Hannah postou o anúncio: "banda de thrash progressivo procurando por um baixista" numa loja musical local. Os membros da banda - vocalista/guitarrista Hahhah, baixista Todd Kowalski, e o baterista Jord Samolesky decidiram usar a banda em serviço da mudança social, o que tem inspirado suas letras, shows beneficentes, e trabalho voluntário em sua cidade Winnipeg, Ontario.
A banda embarcou em sua primeira turnê na América Latina em outubro. Em Buenos Aires, Propagandhi ficou no BAUEN Hotel, que tem estado sobre controle dos trabalhadores pelos quatro últimos anos no coração da cidade. Entusiasmados a respeito de ficar no hotel sem chefe ou proprietário, eles perguntaram todos os tipos de questões a respeito de como a cooperativa é organizada. Muitas da questões foram baseadas na própria experiência deles em auto-gerenciar uma banda e uma gravadora, G7 Welcoming Committee. Defensores de longa data da Parecon [Participatory Economics] e leitores da Z, Hannah e Kowalski sentaram conosco no BAUEN Hotel, no escritório da cooperativa de vídeos Grupo Alavio, para falar a respeito do crescimento político do Propagandhi e futuro artístico.
O que é Propagandhi?
CHRIS: O nome é apenas algo que nós pensamos quando tínhamos 16 anos. Talvez ainda tenha significado, mas é basicamente um nome para nós agora. A banda é o significado em si.
TODD: Eu acho que em termos do que a banda é - canções, letras, coisas que nós apoiamos, eventos beneficentes em que participamos.
Como vocês produzem música?
CHRIS: Não há uma definição estabelecida de trabalhos complexos para a banda. É uma evolução natural como as coisas acontecem. Nós tentamos nosso melhor para fazer tudo colaborativamente. Nós tentamos colocar todos dentro, quando você faz isso assim o produto final é melhor quando todos contribuem. Felizmente, é apenas natural como isso tem sido, nós não temos que forçar esse processo. Eu acho que isso é a respeito de uma tendência natural de como as coisas podem ser. As coisas podem ser melhores quando todos contribuem ao invés de uma pessoa dizer a todos o que fazer e você acaba com o produto daquela pessoa ao invés do produto de todos.
O que está por de trás da filosofia da G7 Welcoming Committee?
CHRIS: Primeiro e principalmente, lidar com os artistas ou músicos que nós gostamos de verdade e aqueles que nós achamos que são ignorados por uma indústria musical que é mais direcionada para os lucros que para os valores. Esse é um aspecto certo. O outro aspecto tem sido a estrutura do local de trabalho, sempre estar certo de que esse não vai contra o que eu acho que seja uma forma imatura de organizar seu local de trabalho, que é ter um presidente ou um chefe. E então todos os outros seguem uma cadeia de comando onde as decisões vem do topo. Nós vimos isso com nossa antiga gravadora norte-americana, Fat Records, e outras gravadoras. Existe um rei, e então todos fazem o que lhe é dito.
Em minha estimativa, isso destruiu os projetos que a gravadora foi responsável. Considerando que a G7 - apesar do que está havendo com a música onde as gravadoras não estão vendendo e os downloads estão mais populares - sobreviverá por causa da nossa estrutura de trabalho. Todos - bem só restam dois caras agora - mas mesmo quando tínhamos cinco pessoas trabalhando naquilo, as pessoas estavam lá porque elas tinha interesse nos valores e não em conseguir um dinheiro fácil. Aquilo era importante para nós.
Como ser uma banda que tem seu próprio selo afetou a distribuição?
CHRIS: Per capita nós temos feito um trabalho melhor do que as companhias ricas. A estrutura de trabalho é internamente uma aplicação prática da ideia. Fora de lá nós providenciamos aos distribuidores os álbuns em dia. Fora da nossa estrutura de trabalho nós continuamos escravos do mercado.
Que movimentos sociais e políticos têm inspirado o trabalho do Propagandhi?
TODD: Mais recentemente, Sisters in Spirit localizado em Winnipeg. Nós tocamos shows beneficentes para elas. Sisters in Spirit trabalham com mulheres aborígenes canadenses. Elas tentam achar mulheres aborígenas perdidas no Canadá que têm sido torturadas e os policiais não têm feito o suficiente para achá-las. Também, para alertar a sociedade canadense do abuso à mulheres aborígenas. Também para mim há um lugar chamado Welcome Place, um centro para refugiados recentes no Canadá onde eu gasto boa parte do tempo sendo voluntário. Mostrar as pessoas os lugares, conseguir cartões de bibliotecas, mostrar a elas como usar o 'Y'.
CHRIS: Realmente, ao longo dos últimos 15 ou 20 anos de envolvimento com organizações, as coisas que fazem nossos ouvidos mais felizes são grupos que estão fazendo alguma coisa diferente dos que as instituições existentes que estão claramente falhando em quase todos os níveis. Quando nós éramos crianças nós nos animávamos quando ouvíamos coisas a respeito de anarquismo ou socialismo, qualquer coisa que parecia mais a respeito de valores do que puro lucro. Aquilo nos trouxe onde nós estamos hoje, ainda tentando achar o que é efetivo ou eficiente em as pessoas fazerem aquilo realidade.
Agora que vocês estão na América Latina o que vocẽs tem achado inspirador?
TODD: Algumas das artes que nós vimos nas ruas.
CHRIS: Na medida em que as instituições sociais vão, essa (BAUEN Hotel) é provavelmente bastante única pelo que nós temos visto de longe. Outra coisa que me impressionou, não totalmente positivamente, especialmente na América Central, é o quanto as pessoas conhecem a respeito, quase como uma obrigação, a cultura norte americana. Eu esperava vir para a América Central e ser inundado com diferente sons e pessoas sem conhecer o que está havendo na América do Norte e mostrando a nós o que está se passando com as bandas locais. É muito americanizado. Aquilo realmente me surpreendeu. É uma rua de uma mão só - Cultura norte americana para a América Latina. Não é saudável ter uma rua de uma mão entre trocas de culturas.
TODD: Você vem aqui e você não quer 'roubar' as pessoas. Você também teme que se uma tour for razoavelmente bem, você estará abrindo portas para as bandinhas que querem vir aqui e tirar dinheiro das crianças. Então isso pode ser uma faca de dois gumes.
Qual é o papel de um artista na mudança social?
CHRIS: Eu não fico envergonhado em dizer algo no palco que é dito como político ou usar o palco como plataforma política. Nós geralmente dizemos algo nos shows.
Pessoalmente, e nós provavelmente compartilhamos essa perspectiva, eu tenho uma responsabilidade como alguém nascido nesse mundo e que vê o mundo de uma certa forma. E quem vê o mundo dessa forma loucamente errada, (tem que) comentar isso. Através da banda é o mínimo que nós podemos fazer sendo responsáveis... como você pode andar pelo mundo e vê o que você vê, seja nas notícias ou na rua, e se juntar a um grupo de pessoas e comentar aquilo, ao invés de fingir que não há nada lá.
TODD: Eu acho que as pessoas reagem quando elas escutam, elas reagem ao que elas podem se relacionar. Platéias diferentes reagem a diferentes segmentos das letras. Se pegou essa parte, se não, não.
CHRIS: Nós não dizemos coisas para tentar ser diferente de todo mundo. Nossa ideia é que há um princípio de mediocridade em efeito. A maioria das pessoas podem entender, por exemplo, se eu sinto que é errado existir uma relação de chefe-empregado. Se eu sinto que há algo fundamentalmente errado, que eu nunca pessoalmente gostei a respeito dessa relação em toda minha vida trabalhando, então minha conclusão é que a maioria das pessoas também compartilham essa experiência de ter uma relação negativa de chefe-empregado. Eu não sou particularmente uma pessoa única. Então quando você exprime essas ideias e você começa a ver que, é, todos tem uma experiência similar. Se você pedir pra levantarem a mão quem tem uma experiência como essa, todos levantarão. É que a maioria das pessoas não se organiza ou elas sentem que não podem organizar. Todos se sentem isoloados e essa é a razão pela qual nada parece mudar muito nunca.
Vocês acham que a música pode passar uma mensagem melhor que outros meios?
CHRIS: Poderia, mas não passa por causa de muitas bandas - especialmente na cena punk - que escolhem não passar. Eles se aproveitam das relações sociais que existem, se aproveitam da brecha entre a riqueza e a pobreza que eles podem alavancar em seus benefícios. Apesar do que eles dizem, eu acredito que a maioria das bandas punks consagradas da América do Norte não tem interesse em fazer mudanças. A música poderia ser uma ferramenta poderosa.
TODD: A coisa sobre a música é que ela faz você sentir algo, ou faz você poder entender como alguém está se sentindo a respeito de algo. Você escuta ela e então você pensa "É, é isso".
Como a cultura do DIY (Do it Yourself - Faça você mesmo) no punk afetou o jeito que o Propagandhi faz música e o tipo de música que vocês fazem?
CHRIS: A cultura do DIY definitivamente tem nos instruído desde o começo. Quando Todd estava no I Spy, a banda anterior dele, e o Propagandhi e o I Spy estavam crescendo juntos, DIY era a ética que nós estavamos objetivando. Até os dias de hoje, todos os aspectos, praticáveis ou não, nós tentamos criar em nosso próprio domínio.
TODD: Uma vez nós tínhamos 5,000 CDs e nós recortamos pedaços de papelão para cada CD tentando fazer embalagens.
CHRIS: DIY ao passo do absurdo em alguns casos.
TODD: Então a tinta saiu da embalagem para o CD e o estragou.
CHRIS: Mas a extensão lógica do DIY é pessoas cooperando ao invés de alguém impondo suas ideias a todos os outros.
Quais são os seus objetivos políticos no geral?
TODD: Um dos nossos principais objetivos como músicos é fazer músicas destruidoras que possamos ouvir quando nós formos pra casa. Fazer boas letras e boas canções. Eu gostaria que mais do que nós fazemos tivesse mais impacto no nosso website. Às vezes nós avançamos e desaparecemos nas sombras. Seria legal estar sempre com novas ideias o tempo todo e mais material a caminho.
CHRIS: Os tempos estão mudando para a música e para as bandas. Fazer canções que nos fazem incrivelmente felizes - você não perderá porque as pessoas ouvirão e dirão "É, eu posso ouvir isso". E em seguida, o que importa são as ideias e a música também. Você pode ter grandes ideias, mas se você tem uma música horrível, as pessoas não irão comprar aquilo de forma alguma.
O quanto vocês cresceram artisticamente e politicamente?
TODD: Artisticamente, nós crescemos ridicularmente. Quando eu penso a respeito da minha própria forma de tocar ao longo dos anos, eu não consigo acreditar que nós encaramos um público naquela forma. Eu tenho vídeos das minhas bandas antigas e claramente nós nos tornamos melhor.
Como punk rockers veteranos o que vocês têm mais orgulho na sua carreira?
TODD: É difícil dizer. Algumas músicas ou partes de músicas.
CHRIS: Talvez apenas o fato de manter as coisas reais durante todo esse tempo. Assistindo muito dos nossos iguais se vendendo ou apenas ficando pior e pior. Nós nunca fomos controlados. Mantemos a coisa real. Quatro amigos que estão literalmente num porão fazendo música que gostam.
TODD: Às vezes você tem que se orgulhar de que a banda que você está é o que você teria gostado quando criança, mas como uma criança você não seria capaz de imaginar a música que você está fazendo porque os sons e estilos exatos não existiam quando você era criança. Você pegou a música e fez coisas novas.
CHRIS: Num nível mais abstrato e mais cliché, ter a resposta das pessoas, não apenas dos jovens, pessoas no geral. As pessoas afirmando que a banda teve um impacto na vida deles de um jeito que reflete nossos valores, isso é formidável. Ir contra o sistema inteiro que ensina certos valores, a banda tenta fazer a pessoa ver valores que achamos que faz muito mais sentido. Você pode dizer que é a justificativa da sua vida, mesmo que seja apenas anedotal.
Qual a música que é a mais próxima de vocês?
TODD: Se eu fosse escolher uma que eu fiz, "Bringer of Greater Things", que eu escrevi a letra. Eu cresci em Regina. Era um lugar muito racista. Minha família era racista. Voltando na minha vida e percebendo, quando eu tinha 17-18 anos, nós estávamos totalmente na merda. Ver minha mãe parar e dizer "É, nós estamos na merda" e meu irmão parar e dizer "É, nós estamos na merda". Escrever uma canção a respeito disso não é idiota e tem significado para mim e carrega um peso que eu posso ver em minha cabeça como uma imagem inteira. A canção é a respeito de que em Saskatoon os policiais pegavam os aborígenas para fora da cidade e faziam eles andarem para casa num inverno com temperatura abaixo de 40 graus. Alguns caras morreram naquilo. Você sabe que isso acontece. Eu me sinto orgulhoso de tirar alguma coisa de mim que seja artisticamente agradável para mim.
O que reserva o futuro?
CHRIS: Outro álbum no formato que as forças do mercado perimitirem. Tocar mais, mais rock no porão, conectar as letras da banda com o que nós fazemos na nossa vida real. Tentar apoiar as pessoas que estão fazendo coisas que são conectadas aos valores da banda. Uma grande parte da banda é apoiar pessoas que estão fazendo o trabalho pesado.
TODD: Nós tentamos fazer o mesmo trabalho. Temos a banda e nós tentamos fazer esse tipo de trabalho. Tudo é divertido. Nada disso soa como trabalho. Nada disso é trabalho pago também.
Por Marie Trigona
Entrevista Original: Clique aqui